Belsazar
Belsazar não sobreviveu àquela
noite, sendo morto na queda da cidade durante a noite de 5 de outubro de
539 AEC, quando, segundo a Crônica de Nabonido, “o exército de Ciro
(II) entrou em Babilônia sem batalha”. (Assyrian and Babylonian Chronicles, pp. 109, 110; veja também Dn 5:30.) Com a morte de Belsazar e a aparente rendição de Nabonido a Ciro, encerrou-se o Império Neobabilônico
[do acadiano, significando “Protege Sua Vida”; ou, possivelmente: “[Que] Bel Proteja o Rei”].
O primogênito de Nabonido, e
co-regente de Nabonido nos últimos anos do Império Babilônico. Ele é
mencionado no relato bíblico apenas pelo profeta Daniel, e, durante
muito tempo, sua posição como “rei de Babilônia” foi negada pelos
críticos da Bíblia. (Dn 5:1, 9; 7:1; 8:1) No entanto, a evidência arqueológica, na forma de textos antigos, desde então demonstrou a historicidade do relato da Bíblia.
Em Daniel 5:2, 11, 18, 22, Nabucodonosor é mencionado como “pai” de Belsazar, e Belsazar como “filho” de Nabucodonosor. O livro Nabonidus and Belshazzar
(Nabonido e Belsazar; de R. P. Dougherty, 1929) argumenta que é
provável que a mãe de Belsazar tenha sido Nitócris, e que ela era filha
de Nabucodonosor (II). Neste caso, Nabucodonosor era avô de Belsazar.
(Veja Gên 28:10, 13,
para ver um uso comparável de “pai”.) No entanto, nem todos os peritos
acham totalmente satisfatória a evidência para tal parentesco. Pode ser
que Nabucodonosor fosse simplesmente o “pai” de Belsazar quanto ao
trono, tendo sido Nabucodonosor predecessor régio. De maneira similar,
os assírios usavam a expressão “filho de Onri” para indicar um sucessor
de Onri.
Confirma a história secular o papel de Belsazar como governante de Babilônia?
Uma tabuinha cuneiforme, datando
do ano de ascensão ao trono de Neriglissar, que sucedeu Avil-Marduque
(Evil-Merodaque) no trono babilônico, refere-se a um certo “Belsazar, o
principal oficial do rei”, em conexão com uma transação financeira. É
possível, embora não provado, que isso se refira ao Belsazar da Bíblia.
Em 1924 publicou-se o deciframento dum antigo texto cuneiforme descrito
como “Relato Versificado de Nabonido”, e por meio disso trouxe-se à luz
valiosas informações que claramente corroboram a posição régia de
Belsazar em Babilônia e que explicam a maneira de ele se tornar
co-regente de Nabonido. A respeito da conquista de Tema por Nabonido, no
terceiro ano do seu governo, uma parte do texto diz: “Ele confiou o
‘Acampamento’ ao seu (filho) mais velho, o primogênito [Belsazar], as
tropas em toda a parte no país ele mandou pôr sob (o comando) dele.
Largou (tudo), confiou-lhe o reinado, e ele mesmo [Nabonido], iniciou
uma longa jornada, as forças (militares) de Acade marchando com ele;
virou-se para Tema (bem) no oeste.” (Ancient Near Eastern Texts
[Textos Antigos do Oriente Próximo] editados por J. Pritchard, 1974,
p. 313) Portanto, Belsazar definitivamente exercia autoridade real desde
o terceiro ano de Nabonido em diante, e este evento corresponde
provavelmente à referência de Daniel ao “primeiro ano de Belsazar, rei
de Babilônia”. — Dn 7:1.
Em outro documento, a Crônica de
Nabonido, encontra-se uma declaração com respeito ao sétimo, nono,
décimo e décimo primeiro ano de reinado de Nabonido. Reza: “O rei
(estava) em Tema (enquanto) o príncipe, os oficiais e seu exército
(estavam) em Acade [Babilônia].” (Assyrian and Babylonian Chronicles [Crônicas Assírias e Babilônicas], de A. K. Grayson, 1975, p. 108) Pelo visto, Nabonido passou grande parte de seu reinado
longe de Babilônia, e, embora não abdicasse à sua posição de governante
supremo, confiou a autoridade administrativa a seu filho, Belsazar, para
atuar durante a sua ausência. Isto se torna evidente de vários textos
recuperados dos antigos arquivos, que provam que Belsazar exercia
prerrogativas reais, que ele expedia ordens e comandos. Os assuntos
tratados por Belsazar em certos documentos e ordens eram aqueles que
normalmente seriam cuidados por Nabonido, como governante supremo, se
estivesse presente. No entanto, Belsazar continuava sendo apenas o
segundo governante do império e, assim, só podia oferecer tornar Daniel
“o terceiro no reino”. — Dn 5:16.
É verdade que inscrições oficiais
dão a Belsazar o título de “príncipe herdeiro”, ao passo que no livro
de Daniel seu título é “rei”. (Dn 5:1-30)
Uma descoberta arqueológica na Síria setentrional sugere o possível
motivo disso. Em 1979 foi desenterrada uma estátua, em tamanho natural,
dum governante da antiga Gozã. Na aba da sua veste havia duas
inscrições, uma em assírio e a outra em aramaico — língua do relato
sobre Belsazar, em Daniel. As duas inscrições quase idênticas tinham uma
notável diferença. O texto na língua imperial assíria diz que a estátua
era do “governador de Gozã”. O texto em aramaico, a língua do povo
local, descreve-o como “rei”.
Neste respeito, o arqueólogo e
perito em línguas Alan Millard escreve: “À luz das fontes babilônicas e
dos novos textos nesta estátua, talvez se achasse bastante apropriado
que registros não-oficiais, tais como o Livro de Daniel, chamassem
Belsazar de ‘rei’. Ele atuava como rei, como agente de seu pai, embora
talvez não fosse legalmente rei. A distinção exata teria sido
irrelevante e confusa na história conforme relatada em Daniel.” — Biblical Archaeology Review (Análise da Arqueologia Bíblica), maio/junho de 1985, p. 77.
Esperava-se que aqueles que
exerciam o poder soberano em Babilônia fossem exemplares na reverência
dos deuses. Existem seis textos cuneiformes a respeito dos eventos do
5.° ao 13.° ano do reinado de Nabonido, que demonstram a devoção de
Belsazar às deidades babilônicas. Mostra-se em documentos que Belsazar,
como rei interino na ausência de Nabonido, oferecia ouro, prata e
animais aos templos em Ereque e em Sipar, destarte comportando-se de
maneira coerente com a sua posição régia.
O Fim do Governo de Belsazar.
Na noite de 5 de outubro de 539 AEC (calendário gregoriano, ou 11 de
outubro, calendário juliano), Belsazar deu um grande banquete a mil de
seus grandes, conforme relata o capítulo 5 de Daniel. (Dn 5:1)
Babilônia estava então ameaçada pelas forças sitiantes de Ciro, o
Persa, e de seu aliado Dario, o Medo. Segundo o historiador judeu Josefo
(o qual, por sua vez, cita o Beroso babilônio), Nabonido se havia
recolhido a Borsipa depois de ter sido derrotado pelas forças
medo-persas em batalha. (Against Apion [Contra Apião], I,
150-152[20]) Neste caso, Belsazar era o rei interino na própria
Babilônia. A realização dum banquete, enquanto a cidade estava sendo
sitiada, não é tão incomum, quando se lembra que os babilônios
confiantemente consideravam as muralhas da cidade como inexpugnáveis. Os
historiadores Heródoto e Xenofonte também declaram que a cidade tinha
abundantes suprimentos das coisas necessárias, e por isso não estava
preocupada com alguma escassez. Heródoto descreve a cidade como em
animação festiva naquela noite, havendo danças e divertimentos.
Durante o banquete, e sob a
influência do vinho, Belsazar mandou trazer os vasos tirados do templo
de Jerusalém, a fim de que ele, seus convidados, e suas esposas e
concubinas pudessem beber deles, enquanto louvavam os deuses babilônios.
Obviamente, esta demanda não se devia a alguma falta de vasos para
beber, mas, antes, constituía um deliberado ato de desprezo deste rei
pagão em vitupério do Deus dos israelitas, Jeová. (Dn 5:2-4)
Com isso ele desafiou a Jeová, o qual havia inspirado as profecias que
prediziam a queda de Babilônia. Ao passo que Belsazar parecia
despreocupado com o sítio pelas forças inimigas, ele ficou agora muito
abalado quando de repente apareceu uma mão e começou a escrever na
parede do palácio. Com os joelhos batendo, ele convocou todos os seus
sábios para dar-lhe a interpretação da mensagem escrita, mas em vão. O
registro mostra que a rainha lhe deu então um conselho sensato,
recomendando Daniel como alguém capaz de fornecer a interpretação. (Dn 5:5-12)
Certos peritos acham que a “rainha” não era a esposa de Belsazar, mas a
sua mãe, que se crê ser a filha de Nabucodonosor, Nitócris. Daniel, por
inspiração, revelou o significado da mensagem milagrosa, predizendo a
queda de Babilônia diante dos medos e dos persas. Embora o idoso profeta
condenasse o ato blasfemo de Belsazar, de usar vasos da adoração de
Jeová para louvar deuses cegos, surdos e ignorantes, Belsazar manteve a
sua oferta e passou a investir Daniel da posição de terceiro governante
no reino condenado. — Dn 5:17-29.
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